“OS POVOS ESTÃO MOSTRANDO QUE É POSSÍVEL MUDAR O CURSO DA HISTÓRIA”

DEBATE – Breve contribuição ao 3º ENDP (Apresentado na Reunião Preparatória no Recife, em 17.03.2011, com 35 petistas)

1) No espírito da fundação do PT, integrado à luta dos trabalhadores do mundo, hoje, um verdadeiro debate como o Encontro Nacional do Diálogo Petista se propõe a fazer, deveria integrar a apreciação dos acontecimentos do Norte da África.

De fato, o que estamos vendo desde há três meses quando começaram as mobilizações massivas na Tunísia pedindo o fim do regime e uma série de reivindicações sociais, é algo que há algum tempo não víamos – a clássica revolução!

Revolução, não apenas uma explosão ou um choque, mas um movimento protagonizado pela massa da população trabalhadora, com um lugar notável para a juventude, que procura se reapropriar de organizações históricas (como a central sindical UGTT) e ao mesmo tempo cria formas amplas e dinâmicas de auto-organização – surgem comitês populares -, num movimento ininterrupto que derruba um governo depois doutro até obter a satisfação das reivindicações, com avanços e recuos, mas recusando arreglos e falsas “transições democráticas”, exigindo-se Assembléia Constituinte para reorganizar o país segundo a vontade popular.

Por razões que debateremos, o movimento que eclodiu na Tunísia e virou uma onda de choque na região (Egito, Bahrein, Marrocos, Líbia etc.), não é um movimento étnico ou confessional, geograficamente confinado, como certa imprensa tenta limitar, para esconder as causas profundas: a miséria, desemprego e privatizações, acentuados pela crise capitalista aberta em 2008 e os “planos de ajuste”, que geraram revolta contra os regimes autoritários servis aos imperialismos estadunidenses e europeus. Imperialismos que hoje mesmo conjuram uma inaceitável ingerência de pretexto “humanitário”, com ou sem mandato da ONU – tal Iraque como Afeganistão -, contra a soberania desses povos para controlar da exploração de suas riquezas (hidrocarbonetos).

O que os povos desta região estão mostrando, é que é possível mudar o curso da história e tomar o destino nas próprias mãos – a revolução! Não é fácil, muitas vezes tem um custo enorme, mas sim é possível.

NÃO É CHOCANTE VER AS MESMAS FORÇAS DITAREM A AGENDA DERROTADA QUE GANHA ESPAÇO NO GOVERNO DILMA?”

2) Aqui em nosso país, mais e mais militantes e trabalhadores refletindo sobre o que se passa, não demora, tirarão as suas próprias conclusões. Afinal, não apenas a classe trabalhadora é uma só, como também a crise do sistema capitalista, apesar das características especificas a cada país, não poupa realmente nenhum povo.

E não é evidente, por exemplo, que as forças imperialistas, o FMI e o Banco Mundial, enfim as multinacionais e os bancos que sustentaram os regimes odiados do Norte da África e lhes impuseram “ajustes” e privatizações, estão entre as mesmas forças que enfrentamos no Brasil levantando bem alto a bandeira do PT?

E, não é chocante agora, depois de elegermos pela 3ª vez um(a) presidente do PT, constatar que essas forças conseguem ditar a sua agenda, como, por exemplo, freando a valorização do salário mínimo, cortando R$ 52 bilhões do Orçamento para engordar o superávit primário, novamente sobrepondo os juros e a especulação à proteção da produção nacional, estagnando a reforma agrária, e ainda bloqueando a esperada retomada das riquezas nacionais e empresas privatizadas?

“DEBATER COMO ENFRENTAR E FAZER O GOVERNO DA PRESIDENTE DILMA REVERTER”

Não obstante ter sido derrotada, essa é a agenda que está ganhando espaço no atual governo da presidente Dilma. Ela confronta os sindicatos, a CUT e os movimentos populares, e angustia os militantes sinceros do PT – temos aí um verdadeiro problema a debater como enfrentar e fazer o governo da presidente Dilma reverter. O quanto antes, melhor!

Coisa que as amplíssimas coalizões feitas (PMDB etc.) não ajudam, ao contrário, como que cristalizam no viciado ambiente de um Congresso Nacional sem povo (50% de representantes empresários), o Congresso de José Sarney.

Nessa situação, todos podem se perguntar, onde está o PT que não se ouve e não se vê? Teriam as nomeações e conveniências finalmente consumindo a existência autônoma do partido? Não, nós não podemos aceitar esse epitáfio! Não apenas nossa convicção do que é necessário fazer, como estamos vendo fazer pelo mundo afora, como o que podemos sentir em qualquer reunião de diretório, movimento ou sindicatos, indica que a energia dos militantes, trabalhadores e jovens não se esvaiu, o problema está mais nas estruturas de representação e direção.

Assim, esperamos chegar até o encontro do dia 2 com novas propostas para mudar este estado de coisas, propostas de ação para submeter aos fóruns da luta de classes como para as instancias do partido, acolhendo iniciativas e movimentos que já existem e nos comunicam (na área da saúde, no campo, na educação, e na própria representação política, sem esgotar).

“A ONU DISCUTE EM OUTUBRO; COMEÇAR AGORA CAMPANHA PELO FIM DA MINUSTAH”

3) Desde já, entre as conclusões que levamos ao 2 de abril, é questionar a situação extrema do povo irmão do Haiti, em debate com o secretario da central sindical CATH que ali estará presente.

O Haiti está no 7º ano de ocupação das tropas de Minustah, comandadas por generais brasileiros acusados de graves violações de direitos humanos, verdadeira guarda pretoriana de um regime sem apoio social (v. a recente fraude eleitoral, boicotada pelo povo – menos de 20 % votaram!). Nenhum problema do país foi resolvido pela Minustah, cuja inação foi evidente nos cataclismas (inundações, terremotos ou epidemia), pois nenhuma ocupação poderia substituir a soberania nacional haitiana.

Respaldamos, por isso, a oportuna audiência que afinal a ministra Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, dará ao dirigente da CATH. O Haiti de fato necessita de ajuda, engenheiros, médicos, técnicos etc., que nosso generoso povo apoiará, mas não de tropas militares. E como em Outubro, a ONU discutirá a renovação ou não da “missão”, é a hora de começar agora, uma campanha nacional e internacional pelo fim da Minustah.

Assinam: Fernando Nascimento, PT- Recife, ex-deputado federal; Vinícius Carvalho, Executiva do PT-PE; Ronaldo Santos, Executiva do PT-Lagoa de Itaenga; Edmilson Menezes, PT- Recife

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Diálogo e Ação Petista

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