Plenária nacional do DAP: abertura com Gleisi e discussão internacional

Aconteceu a primeira plenária virtual nacional do DAP neste sábado (13), com representações de 15 Estados (*), num total de 95 companheiras e companheiros. A abertura contou com a presença de Gleisi Hoffmann, Presidenta do PT nacional, e de Luísa Hanune, Secretária-geral do PT da Argélia e co-coordenadora do Acordo Internacional dos Trabalhadores e Povos (AcIT). Uma delegação da Juventude Revolução do PT também esteve presente.

Publicamos aqui sobre a abertura do encontro com Gleisi Hoffmann e a discussão internacional com Luísa Hanune e Júlio Turra. Nos próximos dias publicaremos também sobre o restante do Encontro.


Necessidade do encontro

Misa Boito

A companheira Misa Boito, indicada pelo do comitê nacional para dirigir a plenária, iniciou os trabalhos explicando a necessidade do encontro: “O comitê nacional decidiu essa plenária diante da necessidade dos grupos de base de nos manter agrupados. Essa plenária vem no bojo das atividades dos grupos de base, e no bojo dos atos pelo país contra Bolsonaro e contra o racismo”, explicou Misa.


Gleisi: “Precisamos ter clareza da posição do PT

Gleisi Hoffmann

A companheira Gleisi, que esteve presente na abertura, explicou a posição que o PT adotou na última segunda-feira de apoiar as manifestações pela democracia e contra o racismo, fazendo uma boa análise da conjuntura nacional. Disse a companheira Gleisi: “vocês do DAP têm bem claro a conjuntura. Precisamos é ter clareza da posição do PT, qual o papel do PT nessa conjuntura. Desde o início da crise (da covid-19), defendemos o emprego, a vida e a democracia. Isso ficou claro em todas as manifestações em que fizemos. A bancada do PT foi a que mais apresentou projetos em defesa das questões emergenciais, para ajudar o povo e governadores a enfrentar a crise”.

“É preciso o fim do governo”

Gleisi ainda falou sobre o governo Bolsonaro: “Bolsonaro para os trabalhadores veio com a MP 936 (que permite redução jornada e de salários e suspensão de contrato de trabalhos – Nota da redação) e nada fez para pequenas e médias empresas. O Brasil se tornou pária (**) internacional: em segundo lugar quantidade de casos, perdendo apenas pros Estados Unidos. Para o desdobrar dessa crise, entendemos que é preciso o fim do governo. Bolsonaro é a crise em si. Ele aposta em instabilidade, aposta no caos social, até pra dar guarita na escalada autoritária dele.”

Crise institucional

Gleisi ainda citou a preocupação sobre a posição das Forças Armadas: “Entendem como governo deles, basta ver que estão em todos os postos estratégicos. Acho que nem na ditadura militar tiveram tantos postos estratégicos”

Sobre saída política, Gleisi afirmou que “a luta que nós temos é pela saída do governo Bolsonaro, não é só de Bolsonaro. Apresentamos a proposta de impeachment, e também queremos a PEC para que em 90 dias tenhamos eleições (…). Nunca tivemos ilusão de sermos ‘oposição propositiva’. A democracia tem que ser qualificada. Democracia, pra nós do PT, tem que ter a ver com os direitos do povo: comer 3 vezes por dia, acesso a emprego, renda, e direitos”.

Manifestações

Gleisi ainda citou os próximos passos do PT, em termos de discussão com outras forças políticas: “Estamos preparando um manifesto popular e democrático. Obviamente podemos fazer alianças democráticas neste processo, sem nunca abrir mão de nos posicionar. Saudamos as manifestações de rua, amanhã (domingo) vou estar na manifestação em São Paulo. Estamos orientando a nossa militância. A maioria das pessoas que está indo pra rua é de quem já está confrontado à COVID-19. É quem escolheu lutar para viver”.

Gleisi ainda relembrou pra termos cuidado, relembrando as manifestações de 2013, que, segundo ela com a despolitização de 2013 resultou na eleição de Bolsonaro.

Frente ampla não

Sobre a discussão sobre frente ampla versus frente de esquerda, Gleisi afirmou: “Não estamos nesse movimento de frente ampla, não achamos que essa frente ampla possa ser uma saída pro Brasil. Essa frente caminha pra exclusão do povo.”

Gleisi finalizou dizendo que tem muito em comum no PT na situação atual com as idéias do DAP: “Muita força, muita firmeza. O que vem pela frente não vai ser fácil”


Luísa Hanune: “A frase ‘socialismo ou barbárie’ nunca teve tanta atualidade”

Luisa Hanune
Luisa Hanune

Luísa fez uma análise da situação política mundial que, segundo vários participantes, considerou uma “injeção de ânimo” para a plenária. Disse Luísa:

As imagens que vemos sobre a situação dos povos na pandemia parecem imagens que vimos em livros, da 1ª Guerra Mundial e da 2ª Guerra mundial. Jamais como hoje em dia os povos estiveram tão simultaneamente unidos diante das consequências como nessa pandemia. O que provocou a impotência de enfrentar o vírus foi um processo de sucateamento dos serviços públicos de saúde. Esse sucateamento da proteção social provoca a impotência dos governos. Mesmo as pesquisas científicas que marcaram progressos da humanidade, foram travadas e desviadas para atender os requisitos de lucro do capital. Essa constatação pode ser feita em qualquer país. (…) O governo (da Argélia – NDT) usou o confinamento para atacar os direitos do povo. Em outros países houve supressão de liberdades democráticas, como a de reunião e a de manifestação. A classe trabalhadora está diante de uma unidade total na ofensiva capitalista na pandemia.

Crise nos Estados Unidos

O sistema já estava dilacerado por suas contradições. O assassinato do negro George Floyd abriu uma situação nova, não apenas porque as mobilizações nos EUA não tem precedentes – maiores do que na época do assassinato de Martin Luther King -, mas pela onda de solidariedade em vários outros países como na Europa. Isso porque o movimento nos EUA expressa não só o combate ao racismo, que é estrutural no capitalismo, mas conjura com a raiva que existe dos povos em geral diante de sua condição de vida. Nos EUA, brancos e negros, lado a lado, dizem isso. O que está em questão é o sistema diretamente.


Júlio Turra: “a COVID-19 apenas acelerou a crise.

Júlio Turra

O companheiro Júlio Turra, do comitê nacional do DAP, completou a discussão internacional com a situação do continente americano. Turra comentou da importância da tecnologia para manter a ligação internacional que o CILI tem realizado, como a “live” que o DAP promoveu dia 09. Ele disse que a pandemia veio apenas pra acentuar a crise já antes existente: “Os órgãos internacionais como Banco Mundial, FMI, e governos, já estavam anunciando a crise do capitalismo antes do vírus: a COVID-19 apenas acelerou a crise. Se o vírus foi produto do acaso, as suas consequências não: foram produto da ação dos governos nos últimos 20 anos. Na América Latina os sistemas de saúde foram sucateados. O SUS no Brasil desde o governo Temer vem sendo sucateado”.

40 milhões de desempregados nos Estados Unidos

Júlio ainda abordou a crise atual nos Estados Unidos, México, e Chile:

“Nos EUA tem 40 milhões de desempregados. Tá no pano de fundo do assassinato do George Floyd. Assassinato de negro ocorre todo dia e toda hora. Nos EUA 15% da população é negra.  Nesse momento em que estamos falando, algum policial no Brasil está matando um negro. O que explica a explosão social nos Estados Unidos não é o ato racista em si.

No Brasil, Bolsonaro milita contra o isolamento. Porém mesmo em países que tiveram isolamento, há crise: no Chile teve ‘lockdown’. Setores da periferia saem nas ruas gritando “eu não tenho o que comer”. Os países que tiveram maior sucesso no combate à pandemia – não atacando os trabalhadores de maneira brutal – logram conter a pandemia, e em outros países a situação é dramática. O México, que tem um governo progressista, foi um dos últimos a adotar medidas de proteção. Para quem ainda acha que o Daniel Ortega é progressista, ele diz que não tem COVID-19 na Nicarágua até hoje. As conseqüências para os trabalhadores e povos em todo lugar. Estamos diante de uma situação que é inédita. A crise de 2008 nos EUA depois iam pros outros países. Agora é simultâneo”.

Uma hora explode

Julio Turra ainda abordou a situação dos trabalhadores no Brasil e no Chile:

“As lideranças sindicais aqui no Brasil estão em quarentena, mas o povão tá trabalhando. Tem dirigente sindical em quarentena e a base dele trabalhando. Com a irresponsabildiade do Bolsonaro, já somos o segundo país do mundo em casos de covid-19. Se continuarmos confinados, e esperarmos um milagre do céu, não vamos conseguir ajudar nosso povo. No Chile o governo deu bilhões pros patrões e nada pros trabalhadores. No Brasil Bolsonaro deu trilhões pros bancos, e pros trabalhadores redução de salário e de empregos. Isso vai acumulando uma revolta na sociedade que uma hora explode. Não podemos virar os ideólogos do ‘fique em casa’ enquanto a nossa classe tá trabalhando”.

A cobertura da plenária continua nas próximas publicações.

(*) PB, RS, CE, PR, MT, DF, MG, PE, RJ, SP, BA, SC, GO 2, AM e AL

(**) significado de pária: quem está à margem da sociedade


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