O PED e as veias abertas do PT
O Processo de Eleição Direta (PED) do Partido dos Trabalhadores (PT) ainda em curso, com a realização de disputas de segundo turno em diversos estados, demanda um próximo balanço amplo e rigoroso, porém alguns elementos e pistas comparecem nas avaliações iniciais do pleito petista.
O Diálogo e Ação Petista – DAP Associação participou intensamente do PED com uma clara plataforma de esquerda, “os 13 pontos”, defendendo uma virada à esquerda no partido e no governo. Além disso, apoiamos a candidatura do companheiro Rui Falcão para a presidência nacional do PT.
Os resultados ficaram muito aquém dos objetivos traçados por nós, durante o 10° Endap.
Portanto, para fornecer os elementos no sentido de uma avaliação mais consistente e ampliada, destaco três questões:
A primeira, o PED foi impactado pela força política e simbólica do presidente Lula no coletivo partidário. Se é verdade que Lula nunca declarou abertamente o voto no ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, a campanha da CNB e o próprio candidato utilizaram amplamente a narrativa do apoio do presidente.
Na reta final do PED, acontecimentos políticos ocorridos na conjuntura, que sinalizaram para um maior enfrentamento com as forças de direita – Congresso inimigo do povo, chantagem do Centrão, IOF, taxar os ricos, ricos x pobres -, jogaram mais água no moinho da candidatura identificada com o governismo.
É uma leitura possível, apesar de contraditória. Enquanto Edinho fazia o discurso de um giro mais ao centro, mais alianças com a “frente ampla”, “amplíssima”, uma viragem imposta por nossos inimigos empurrava, objetivamente, o governo Lula para a esquerda. Ou seja, apesar de situado no campo da conciliação, Edinho acabou beneficiário da polarização da conjuntura. Logo ele, que bradou o tempo todo contra os efeitos da polarização política, uma realidade incontornável da atual disputa de rumos no país.
Edinho obteve 73,1% dos votos válidos e a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) 51%, garantindo uma situação de força majoritária na direção nacional do partido.
Segunda questão, o modelo PED, com as mudanças introduzidas que burocratizaram mais ainda o processo, e a força do aparelho partidário, controlado pela CNB (vitaminado pelos fundos partidário e eleitoral), e pelas emendas parlamentares, que formam verdadeiras clientelas internas na base partidária e no ativismo dos movimentos sociais próximos ao PT e aos parlamentares, influenciaram fortemente nos resultados, em todos os níveis da estrutura partidária – das zonais, diretórios municipais, estaduais até o DN.
Um quadro de crescente oligarquização do comando partidário avança no interior do PT: o peso de ministros, governadores de estado, secretários de estado, prefeitos, com os mecanismos de filiações em massa e o uso intenso do poder de “amarração” da máquina estatal ou de fatia dela [o estado do Rio de Janeiro, é o exemplo mais acabado desse processo, mas presente em maior ou menor intensidade em todas as regiões do país].
O resultado de conjunto do PED foi adverso para as forças mais à esquerda do PT. Nosso candidato à presidência nacional do PT, Rui Falcão, acabou em terceiro lugar, com pouco mais de 11%.
Quanto ao DAP, é necessário consolidar uma avaliação sobre o nosso desempenho no PED 2025, verificar o nosso tamanho real e traçar rotas de acumulação de forças para o próximo período, com base no cenário político que abre janelas de oportunidades para as forças de esquerda e antiimperialistas.
As últimas pesquisas de opinião, comprovam que Lula acerta o passo quando marcha na direção da esquerda, com uma política mais afirmativa no enfrentamento as ameaças de Trump e dos seus aliados internos da direita neoliberal e da extrema direita bolsonarista.
É nós contra eles!
Milton Alves, do Comitê Nacional do DAP e militante do PT de Curitiba