A agressão de Trump é cada vez mais política
Sob a justificativa de “defender a segurança nacional, a política externa e a economia dos Estados Unidos contra ameaças estrangeiras, incluindo a proteção da liberdade de expressão” o governo estadunidense publicou ordem executiva de sobretaxa de uma lista de produtos brasileiros totalizando uma tarifa de 50%. Levantamento publicado pela Folha de São Paulo (31/8) indica que mesmo que Trump tenha aberto cerca de 700 exceções na lista, produtos não isentos representam 57% dos valores relativos a mercadorias exportadas, portanto a maior parte permaneceu no tarifaço. O comunicado também aumenta a tentativa de ingerência política sobre o Brasil.
É a insuspeita The Economist que afirmou que “raramente desde o fim da Guerra Fria os Estados Unidos interferiram tão profundamente com um país latino-americano”. A revista britânica reputa o estopim do ataque às críticas de Lula à ingerência externa na cúpula dos BRICS no início de julho.
Resultado final mais político que antes
Com base na Lei Magnitsky, o governo dos Estados Unidos anunciou punições contra o Alexandre de Moraes, ministro do STF. A lei foi sancionada por Barack Obama em 2012 para aplicar sanções a acusados de corrupção e violadores de direitos humanos. Trump vê no julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado como uma “caça às bruxas”.
O comunicado afirma que “desde 2019, o Ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil, Alexandre de Moraes, tem abusado de sua autoridade judicial para ameaçar, perseguir e intimidar milhares de seus opositores políticos (…), em prejuízo de empresas americanas que operam no Brasil.”
Patrões de setores atingidos querem despejar tudo nas costas dos trabalhadores
Os efeitos do tarifaço de Trump sobre os trabalhadores estão aí. A indústria de pescados no Nordeste, por exemplo, estuda suspender contratos de trabalho. A Abicalçados, associação patronal das indústrias de calçados, vai na mesma linha. Pede para o governo “a reedição do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm)”. A saber, uma legislação do governo Bolsonaro da época da pandemia que permitiu que as empresas suspendessem contratos de trabalho, reduzisse jornada e salários.
Governos estaduais anunciam medidas
Dos 7 estados que mais exportaram para os EUA em 2024, 6 deram mais votos a Bolsonaro que Lula. Um deles é Santa Catarina, onde o governo local anuncia postergação de pagamento de impostos, linha de crédito e em contrapartida a manutenção dos empregos. Jorginho Melo (PL) alfinetou, aguarda o governo Lula para ver se as medidas aqui serão complementares ou serão a única saída para manter empresas e empregos com o tarifaço. Lula pode e deve fazer muito mais que Jorginho.
União nacional x defesa da soberania, salários e direitos
No dia 1º de agosto estão previstos atos pelo país em defesa da soberania, fim da escala 6×1, contra a pejotização, fim do massacre em Gaza. A reação de Lula à agressão imperialista fez o apoio popular ao governo voltar a crescer. Mas há aqueles que preferem ficar apenas na defesa da soberania como rótulo sem conteúdo acreditando que esconder as reivindicações nacionais e dos trabalhadores dos empregos e direitos, tais como reciprocidade, quebras das patentes farmacêuticas e nenhuma demissão por taxação poderia ajudar.
Enquanto alguns empresários ficam de olho nas isenções fiscais seria justo aceitar a redução dos salários ou a suspensão dos contratos de trabalho? A defesa dos interesses da nação não pode ser separada da defesa dos empregos e dos direitos. É com estas bandeiras que o DAP estará nos atos pelo Brasil, soberania e direitos devem andar juntos.
Marcelo Carlini, suplente do DR PT/RS