Memorável Comício Europeu Contra a Guerra reúne 4 mil em Paris

No dia 5 de outubro, o grande anfiteatro do Domo de Paris, foi lotado por 4 mil cidadãos(ãs) no Comício Europeu “Nenhum centavo para a guerra, nenhuma arma nenhuma vida para a guerra”. Estavam presentes 18 países e convidados da Palestina e dos Estados Unidos

A primeira oradora, foi Mehaseem Ned Elhadi, sindicalista palestina do interior, da associação árabe-judaica Standing Together, seguida pela fala de fraternização entre os povos da judia Orly Noi, do B’Tselem, importante organização de direitos humanos em Israel. Mehaseem levantou a sala. Advertiu que alguns tem esperança no Plano Trump, mas ele “quer substituir o extermínio pelas bombas por um extermínio pelo isolamento e pela fragmentação”. Saudou “a resistência judaica ao genocídio no mundo e inclusive em Israel”, e apontou que “a saída é um único estado democrático”. Mehaseem terminou convocando os presentes a ampliar a luta nos seus países com a confiança de que “o povo palestino vencerá”.

O italiano Maurizio Coppola, coordenador do partido Potere Al Popolo, explicou como os bloqueios de embarques militares à Israel pela USB (Unidade Sindical de Base) no porto de Gênova, puxaram o movimento que “trouxe a classe operária de volta à cena nacional. Duas greves gerais em 10 dias é algo que não víamos há décadas, mesmo na Europa”. Maurizio contou que quando a USB convocou a greve geral de 22 de setembro, a tradicional CGIL boicotou chamando uma greve dia 19 que fracassou. Depois, com divisões internas, a CGIL somou na greve geral ainda maior de 3 de outubro, véspera da marcha de 1 milhão em Roma. “A USB são sindicatos de base, então fazemos por baixo, e pressionamos as grandes centrais”. Coppola foi muito aplaudido.

Tiveram especial audiência os dois oradores da rede “A Paz Por Baixo”, um ucraniano de oposição à Zelenski e a russa Lisa Smirnova, exilada há um ano. Ela reportou que há três anos os protestos eram vistos como coisa de “intelectuais de Moscou pro-Ocidente”, mas depois das centenas de milhares de mortos, o descontentamento se espraiou. Lisa avalia que Vladimir Putin não teme a derrota militar, tem o estoque nuclear, e que as ameaças dos países da OTAN reforçam Putin. “O que estamos fazendo”, ela considera “mais perigoso que as bombas que Starmer, Macron, Merz e Trump mandam para o front”, pois “a questão essencial não é a vitória, mas é oferecer ao povo a paz!”. Emocionou a sala.

Andrew Basta, dos Socialistas Democráticos da América, explicou “estamos construindo um partido socialista enraizado na classe operária”. Lembrou que a classe avança, “a maioria nas pesquisas já não apoia Israel”. Andrew levantou a galera contando como Zohran Mamdani, do DSA, ganhou as primárias democratas de Nova York: “50 mil voluntários bateram em 10 milhões de portas”! É essa força que caminha para um eleger prefeito da principal cidade um socialista contra a guerra.

Jérôme Legrave, organizador do ato, deputado da França Insubmissa (LFI) e militante do Partido Operário Independente (POI), discursou que tanto “os governos precisam da guerra” quanto que “na Itália o povo mostra que não aceita”. E que “nós, aqui, contribuímos para agrupar as forças que vençam”. Jérôme questionou “o PS que, digam o que digam, votou o Orçamento de guerra para Israel e as armas para a Ucrânia”. E arrematou “Nenhuma concessão! Nem Putin, nem Zelenski, nem Macron, nem Le Pen”. Naquela tarde caia o 5º primeiro ministro do odiado Macron.

Jonh Rees, outro co-organizador, da coalizão britânica Stop The War, foi o orador final. Lembrou que “milhões já participaram de marchas, mas não basta, muitos milhões mais precisam marchar”. Destacou que “o orador da Itália tem razão, é a classe operária quem resolve a situação. Eu só tenho um país, a classe operária onde quer que esteja”. Pouco antes, a deputada Zarah Sultan (que saiu do Labour Party para fundar o Yourparty com o veterano ex-líder do partido, Jeremy Corbyn) havia proposto um novo comício em junho de 2026, em Londres. John Rees reforçou , “convite a todos, e a muitos mais, para virem ao segundo encontro dessa organização. Já vimos a sala, será em frente ao Big Ben e Westminster!”.

O tempo mostrará a profundidade deste evento estimulante. O espaço não permite recuperar outro personagem, a plateia com a fraternidade das suas palavras de ordem da plateia, “Siamo tutti antifasciti!“, “Free, free, free Palestine!“, “Macron, Demission!“ ou “Somos todos filhos de Gaza”. Sai marcada uma perspectiva de que, na crise sem saída do capitalismo, o fascismo não conseguiu derrotar realmente a classe trabalhadora. E que começou um reagrupamento de novas forças políticas e sindicais de esquerda dispostas a, “sem concessões”, ir à ruptura com o imperialismo, de modo a ajudar a classe operária a “resolver a situação”.  O que deve ser motivo de uma reflexão, tanto no Brasil como na América Latina.

Markus Sokol, membro do Comitê Nacional do DAP, esteve presente como observador

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